fonte: O Globo
Uma fiscalização do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj) constatou na última quinta-feira que o Centro de Terapia Intensiva (CTI) infantil do Hospital Municipal Souza Aguiar segue desativado. A informação foi divulgada nesta segunda-feira. De acordo com os fiscais do Cremerj, a situação da enfermaria pediátrica, que está sem refrigeração, é grave. O órgão descreve ainda que, além disso, uma parte do setor está em obras, o que ocasiona transtornos para médicos e pacientes. Sem CTI pediátrico, algumas crianças são encaminhadas para a sala vermelha, que atende pacientes graves.
As salas da enfermaria da pedriatria, que têm capacidade para cerca de 30 pacientes, ficam superaquecidas, com temperaturas que ultrapassam os 38 graus. Alguns leitos, próximos à janela, ficam expostos ao sol. Ventiladores antigos são ligados na tentativa de amenizar o calor, mas o sistema de energia do Souza Aguiar não comporta uma nova instalação, portanto, não há previsão de solução para o problema.
No entanto, de acordo com a Prefeitura do Rio, foram investidos mais de R$ 8 milhões na climatização das unidades hospitalares municipais nos últimos anos. “Em 2008, dos leitos de internação existentes, apenas 6% estavam em enfermarias com ar condicionado.Hoje, 72% dos leitos já estão em ambientes climatizados. A meta é chegar ao final de 2015 com 80% dos leitos cobertos. O Hospital Souza Aguiar, que funciona num prédio construído na década de 60, recebeu melhorias em 2014 e conta com um terço de suas enfermarias com ar condicionado, incluindo o sexto andar, onde funciona o setor de ortopedia”, diz a nota da prefeitura.
Segundo o conselho, problemas burocráticos dificultam a contratação de mão de obra. A direção do hospital argumenta que esses são os principais percalços que impedem a reativação do CTI pediátrico. Os médicos também denunciaram a diversidade de vínculos empregatícios e a disparidade de salários.
“Isso é resultado de uma sequência de irregularidades e irresponsabilidades. Há crianças precisando desses leitos, mas eles estão fechados. Não há previsão de reabertura, é um jogo de empurra, ninguém quer ser responsabilizado. Lutamos para que esse CTI não fosse desativado e agora lutamos pela sua reabertura, mesmo existindo uma decisão judicial que determine isso”, destaca em nota o presidente do Cremerj, Sidnei Ferreira.
No andar que está em obras, não existe isolamento, o que gera muita poeira. De acordo com os médicos, o pó tem atingido áreas importantes, como o local onde medicações de uso endovenoso são preparadas. A sujeira também tem provocado reações alérgicas em pacientes e funcionários. “É dever da Secretaria Municipal de Saúde resolver esses problemas, que são graves. As crianças e seus responsáveis merecem um atendimento digno e os médicos devem trabalhar em condições adequadas. São problemas de gestão. Vamos cobrar respostas e soluções”, afirma Ferreira.
Fechado desde fevereiro de 2014, o CTI pediátrico passou a funcionar na Coordenação de Emergência Regional (CER) Centro, anexa ao hospital. Após denúncias do Cremerj ao Ministério Público, em novembro, a Justiça determinou o retorno do serviço à sua unidade de origem em até 90 dias. Antes que o prazo fosse encerrado, o CTI pediátrico fechou as portas na CER e, até agora, não retomou suas atividades no Souza Aguiar.
Em visita técnica à CER Centro, o Cremerj constatou que a ala em que funcionava o CTI está desativada, mas tem refrigeração e equipamentos. O coordenador médico da CER, Romero Júnior, explicou que, quando a decisão judicial foi divulgada, médicos e funcionários começaram a se desvincular da unidade, o que gerou a desativação do setor antecipadamente. O Cremerj vai denunciar todas as irregularidades encontradas no hospital ao Ministério Público e pedirá oficialmente uma resposta para a Secretaria Municipal de Saúde.
A prefeitura afirma que a previsão de reabertura do CTI pediátrico é maio deste ano. “A Secretaria Municipal de Saúde cumpriu a determinação da Justiça e abriu os leitos no Hospital Municipal Jesus. No momento, não há crianças em fila de espera com indicação de internação em CTI e a taxa de ocupação média dos leitos de terapia intensiva pediátricos no município se mantém próxima a 95%”, conclui a nota de resposta às críticas da Cremerj.